top of page

Estágio Curricular IV / E.B.M. Henrique Veras /Turma 71 - semestre 2024/2

Supervisão - Profº Caio Lima | Orientação - Profª Silani Pedrollo 

Introdução: Observações - Aulas de 04/09 a 13/09


Relato das observações
Para iniciar o semestre e conhecer melhor a turma - além da integração com o Professor Caio - iniciei as observações com a turma 71. Já nas primeiras interações pode-se notar que existem possibilidades de se construir uma boa relação com a turma. Fui bem recebido e, por sorte, a turma parece ter gostado de mim.
A sala de música é super bem equipada e organizada, fruto do trabalho do professor Gian que está de licença. A turma já parece manusear com tranquilidade alguns instrumentos e ter a autonomia no gesto musical.
Os primeiros encontros com o Professor passaram até rápido de certa forma, dentre os principais conteúdos, a música “Peixe Vivo” foi o recurso pedagógico mais explorado - para tratar variação em timbre, altura, textura, divisão rítmica e etc.
Uma aula que me chamou bastante a atenção foi a que o Professor puxou um telefone sem fio, com a turma sentada em roda. De início não entendi rapidamente o porquê dessa atividade mas aos poucos fui percebendo a inteligência por detrás da audição que essa brincadeira requer. Fiquei pensando sobre esses princípios e como aplicá-los em sala.
Pude anotar vários detalhes dos níveis de interação com a turma, um dos alunos mais empolgados com a minha chegada, de nome Samuel, fez percutir o meu caderno com suas baquetas.
Com uma habilidade recém adquirida, consegui anotar o nome de todas as pessoas que integram a turma, já criando mapas sobre os pequenos grupos e as amizades mais notáveis (imagem abaixo)

Escrito à mão_2024-11-19_120059 (3).jpg

Aula 1: Conviver através do som
Quarta-feira: 25/09/2024

Tema: Percepção musical individual e coletiva.

Tempo de aula: 45 minutos
Data: 25/09/2024

Recursos
- Instrumento para marcação da pulsação (agogô);
- O corpo de cada integrante;
- Quadro;
- Caneta Marcador.

Metodologia
Iniciando com a aula mais curta da semana, a proposta é levar alguns jogos de ritmo, corpo, som e voz para a turma, pautados no método d`O Passo (Ciavatta) e que sirvam de escopo para ajudar a se aproximar de temas como pulsação, compasso e tempo.
Momento 1 - De início, com a turma em pé e em roda, pede-se para que cada estudante pulse com os pés alternados em uma batida definida. Com a turma em roda a proposta é “rodar” os nomes de cada pessoa, conhecendo uma a uma, em sentido horário a partir de uma pulsação em semínimas com pausa entre cada estudante. Pisa um pé, fala o seu nome, pisa o outro passa para a próxima pessoa que espera o momento de falar o seu na próxima pisada. Com esse desafio simples pretende-se iniciar a aula sob a escusa de conhecer melhor os/as alunos/as. (10 minutos)
Momento 2 -Após essa interação inicial, uma nova rodada com o grupo em roda marcando a pulsação com os pés é iniciada, só que dessa vez ao apontar do professor cada estudante precisará dizer a nota que respondeu na chamada (que progride na escala diatônica conforme a evolução do alfabeto, realizada pelo professor Caio, no início da aula) enquanto estava em sala. Assim inicia-se parte da experiência com a regência prevista para essa primeira aula. (5 minutos)
Momento 3 -A mesma atividade é tentada com cada estudante vocalizando uma nota só válida para todas as pessoas em sala, escolhida (por exemplo, a nota Mi) e tocada na hora no xilofone como referência. A ideia é ainda estimular a percepção sobre a regência e desafiar a memória musical, conservando o ajuste correto da nota em sua altura e possivelmente variando a intensidade da entonação, modificando o volume da voz.. A intenção é divertir e integrar a turma, pensando em melodia e ritmo simultaneamente. (10 minutos)
Com as crianças sentadas em roda nas cadeiras, inicia-se um questionamento coletivo sobre a questão de “O que faz som e o que faz barulho?” solicitando à turma que indiquem objetos, situações e nomes para coisas que podem ser - sob a ótica deles e delas - som ou barulho. A intenção aqui é levantar um rápido e espontâneo repertório de onomatopeias a serem executadas pela turma, cada pessoa com uma, para uma nova rodada de regência, dessa vez combinando sons simultâneos de cada integrante da turma, com a ajuda do professor Caio. (10 minutos)
A partir da exploração dessa brincadeira, pretende dividir-se a turma em dois grupos diferentes responsáveis por entoar as sílabas “TU” ou “EU” quando o professor (ou algum estudante voluntário) entoar as sílabas “MA RA CA” que será um exercício para a ideia de canto responsorial presente nas Lôas tradicionais do gênero. A resposta “TU” ou “EU” serve para compor uma situação inicial de exploração e prática do gênero Maracatu, primeiro através de uma convenção com a voz, com todas as integrantes respondendo apenas a sílaba de cada grupo mas, depois, com essa ideia sendo transmutada para um arranjo instrumental, na aula posterior.. (10 minutos) 

Relato sobre a aula

A primeira aula com a turma foi intensa e envolvente. Com os ânimos agitados pela presença de um novo professor, após a chamada feita com as notas da escala diatônica, fomos para a sala de música onde eu propus um primeiro exercício em pé. Muitos e muitas não gostaram de ter que estar em pé e se movimentar na frente dos outros e por isso iniciamos o exercício de forma menos engajada e concentrada, mas aos poucos a turma se fez mais presente, com exceção de algumas estudantes que - com a gentileza e ajuda do Prof. Caio - foram se inserindo aos poucos na prática. Fica aqui a reflexão: Por que é tão chato se movimentar? Será realmente essa a questão ou tem a ver com outros pormenores? Para essa idade do sétimo ano, muitas vezes se expôr na frente de colegas e estar sujeito à chacota ou ser o centro das atenções é um possível medo. Como a educação musical envolve prática e corpo, fica o desafio de alinhar vivências mais possíveis para o grupo.
Dividindo a pulsação em 4 tempos com a mesma divisão nos pés conforme O Passo®, pedi para que me ajudassem batendo palma em algum dos tempos, muitas obtiveram êxito em se concentrar na relação entre o pulso no pé e o acento. Para estimular mais ainda a conexão interpessoal da turma, expliquei que não conhecia a maioria ali e queria saber os nomes, puxando a roda de nomes. Por um instante foi difícil explicar a ideia de falar o seu próprio nome, esperar um tempo no pulso e depois a próxima pessoa falar o seu, mas, sendo isso um desafio simples logo a turma se inteirou.
Após essa rodada em pé, com a turma sentada, demonstrei no xilofone a nota Lá e pedi que a turma toda cantasse a nota comigo, buscando a afinação. Pedindo para que guardassem a nota “na orelha” solicitei também ao professor Caio que fizesse uma marcação de pulsação no agogô diferenciando o tempo 1 dos demais num ciclo de quatro tempos. Com essa pulsação marcada fiz uma rodada de regência apontando para cada pessoa em individual para que emitisse o som da nota na altura que lembrassem, respeitando a marcação do tempo e do gesto regencial. Em meio a algumas tentativas tímidas e/ou divertidas, uma colega caçoou do timbre de voz de um colega por ser muito agudo ou desajustado. Aproveitei a deixa para fazer uma rápida demonstração sobre alturas e oitavas, dizendo que há diferentes tipos de Lá, a depender da oitava em que for cantado.
Com o esgotamento dessa atividade fui ao quadro e pedi à turma que me indicassem elementos que emitissem som e coisas que faziam barulho. No início um pouco mais esparso mas depois em uma massa sonora confusa os estudantes fizeram diferentes palpites sobrepostos por gritos e interjeições. O resultado do nosso painel no quadro foi esse: 

 

E a partir desse quadro refletimos um pouco sobre a manifestação de cada som (ou barulho) e como poderíamos reproduzi-los sem instrumentos - só com o corpo - e iniciamos nossa próxima atividade, que era a de sonorizar algum desses elementos. Primeiro estudamos em coletivo e depois desafiei cada estudante - à sua própria imaginação e criatividade - através da indicação no gesto regencial fazer o som correspondente ao que tinha escolhido. O desafio era coletivo e a turma precisaria adivinhar qual elemento a pessoa teria escolhido através do som. Apesar da diversão da turma e do engajamento individual, foi um pouco difícil conduzir com a turma concentrada, realmente ouvindo o que cada colega estava criando. Muitos estavam impassíveis sobre a sua escolha e reproduziam sempre a palma, que era um dos elementos mais óbvios no quadro. Encerramos a aula sem introduzir as sílabas do “Maraca EU/TU” por conta do tempo e porque não faria muito sentido naquele momento.

Aula1.jpg

Aula 2: A música de um outro lugar 
Sexta-feira: 27/09/24

Tema: Culturas através da música.

Tempo de aula: 90 minutos
Data: 27/09/2024

Recursos
- Projetor Digital;
- Tela/Suporte para projeção;
- Instrumentos de percussão variados: Alfaia, Agogô, Caixa, Chocalho e etc.

Metodologia
Momento 1 - Como na última aula iremos terminar montando o fonema “MARACATU” introduziremos essa aula de forma expositiva, com uma apresentação de slides (em anexo) que une características territoriais (geográficas), culturais, musicais e de vestimenta que apresentam e identificam a tradição do Maracatu, mais precisamente no estado do Pernambuco. (35 minutos)
Momento 2 - Após essa vivência introdutória, iremos para a sala de música experienciar a construção do ritmo com a turma disposta de instrumentos graves e agudos de percussão. Inicialmente é prevista uma montagem lenta e escalonável do ritmo, iniciando com jogos de acentuações gerais para depois partir para características do gênero. Por exemplo: podemos iniciar fazendo um jogo entre a primeira parte da linha do agogô característica do gênero e  o primeiro acento das Alfaias (tambores graves), aos poucos introduzindo as acentuações restantes da linha grave e os chocalhos. Por último, tentar encaixar a linha da caixa ou tarol. Entende-se aqui o jogo com a palavra “Maracatu” também como um recurso pedagógico-musical para que se possa construir uma noção rítmica a partir da tradição oral, característica das tradições de percussão popular de rua. O uso da palavra cantada também serve como dispositivo para criar um arranjo coletivo, através de proposições sugestivas interagindo com a turma.
Com esse trabalho, pretende-se explorar com a turma as noções do papel de cada instrumento do bloco de maracatu: Alfaias, Agogôs, Caixas, Chocalhos e Voz. (55 minutos).
 

Relato sobre a aula

Iniciamos a aula ainda na sala básica da turma e - como previsto  - fiz a introdução em slides do Maracatu, comentando sobre a região, a tradição e as características do festejo popular. Turma concentrada em sala mesmo durante os vídeos, o que se mostrou um excelente formato para fazer essas introduções históricas e conceituais sobre os gêneros musicais e sua conexão com a cultura. O professor Caio já havia introduzido a manifestação do Maracatu com a turma e o conteúdo serviu como um ótimo complemento, ajudando a instigar curiosidade sobre os detalhes do tema e da manifestação que envolve a prática musical.
Comentamos brevemente sobre o Maracatu ser patrimônio imaterial da humanidade e ter importância para o mundo inteiro sendo algo único de nossa cultura. Após isso fomos para a sala de música onde dividi a turma em dois grupos e só então iniciamos a dinâmica da diferenciação entre as sílabas “EU” e “TU” como complemento (ou resposta à pergunta) da palavra “MARACA”. Com esse jogo, brincamos por alguns minutos com a atenção da turma, comigo regendo, através de uma chamada na caixa, os diferentes lados cada qual com sua resposta adequada, fazendo um contraste entre respostas gritadas ou sussurradas, divertindo e estimulando a turma sobre amplitude no som.
Após esse jogo fomos em direção a um conteúdo que estava previsto somente para a Aula 3 mas preferi adiantar: cantamos a Lôa “Coroa Imperial” de forma responsorial com a turma. Para a minha surpresa positiva - e também do professor Caio que ao final da aula comentou isso comigo - todos/as os/as estudantes participaram cantando em forma de resposta a letra da Lôa. Com isso, pudemos evoluir numa proposta de arranjo coletivo que misturou a letra cantada com acentos característicos do gênero no agogô e nos tambores graves. O que foi sonorizado nessa interação foi realmente grande e pudemos caminhar muito bem dentro da prática do gênero. Sinalizei que só faltaria levarmos o grupo pra rua, para parecer com um grupo de Maracatu corriqueiro, mas que isso não seria feito por questões de segurança. Ao final da aula o Professor Caio sugeriu que com a evolução da turma poderemos fazer um cortejo pela escola. Ainda há, no Maracatu, um ajuste a ser feito com a linha que o Professor já vinha passando. Até onde chegamos é possível conferir no vídeo abaixo.

Aula 3: Mergulhando um pouco mais

(Aula 2 - parte 2)
Quarta-feira: 02/10/24

Tema: Praticando o Maracatu através das Lôas

Tempo de aula: 45 minutos


Data: 02/10/2024

Recursos
- Projetor Digital;
- Tela/Suporte para projeção;
- Equipamento de áudio;

Metodologia
Sem introduzir um ritmo novo a proposta agora é abordar o Maracatu sob uma nova ótica: a expressão vocal. Abordando junto com a turma do que se trata uma Lôa (nome dado à forma presente na cantiga entoada do Maracatu) e mostrando para a turma como é a estrutura de nossa pequena Lôa de dois versos, a intitulada “Coroa Imperial”. As perguntas disparadoras para despertar interesse serão no sentido de revisar parte da aula anterior, em uma conversa com a turma a partir da letra da Lôa escolhida, abordando detalhes sobre a historicidade do gênero, como por exemplo “o que significa a palavra Maracatu?” ou “o que é uma Coroa Imperial? Porque se fala disso na letra da canção?” (15 minutos).  Iremos para a sala de música construir um arranjo coletivo que envolva vozes e instrumentos de percussão, variando sobre a letra da Lôa e o arranjo instrumental construído na aula anterior sobre a brincadeira musical “MARACA EU, MARACA TU”. A intenção aqui é dividir a turma entre três naipes distintos: Alfaias, agogôs e caixas. Como o toque da caixa no estilo do Maracatu é realmente desafiador, propõe-se que o arranjo coletivo seja feito em cima da voz, o agogô faça a clave e as alfaias a acentuação grave característica do gênero, com a caixa como acompanhamento apenas das acentuações. Nas brincadeiras com a voz, enquanto o agogô faz a linha percussiva da clave, os(as) colegas podem cantar a letra da Lôa sempre de forma responsorial - como é em boa parte na tradição - guiados pelo professor. A partir daí pretende-se criar tomadas de decisões com a turma para criar o arranjo coletivo a partir das acentuações características para cada instrumento (silenciando algum naipe de instrumentos, por exemplo, ou realizando “solos”, ou inserindo onomatopeias criadas pela turma e etc.), demonstrando na prática como se forma o enredo instrumental de um Maracatu e como existem possibilidades criativas para modificar o material musical. (30 Minutos)

Relato sobre a aula
Como na aula anterior já havíamos chego a uma inserção na letra da Loa “Coroa Imperial” iniciamos o encontro com uma brincadeira em roda: com alunas e alunos dispostos em círculo, cadeiras coladas umas às outras, fizemos um jogo de palmas onde o desafio era escutar o andamento pulsado no agogô em 4 tempos (com a marcação no tempo 1, uma marcação importante para o Maracatu que viria posteriormente) e bater na palma da colega ao lado no tempo pulsado. Assim, uma corrente de palmas sequenciadas em círculo se formou. A interdependência na manutenção do andamento era o desafio coletivo e a turma soube reconhecê-lo. Os que faziam gracinha tentando bater forte demais ou se adiantava só pra chamar a atenção, era nitidamente reconhecido pela turma e sempre que o “compasso” desandava alguém se ocupava em corrigi-lo. Isso demonstra um conhecimento muito especial de pulsação. Em geral, a dinâmica serviu como processo interativo e, com a ajuda do Professor Caio no instrumento pudemos alterar a velocidade do pulso de diferentes formas e aumentar o grau de percepção envolvida na atividade.
Depois partimos para retomar o Maracatu, com o arranjo sugerido na última aula, partindo de uma convenção de entrada, depois a letra cantada e o início instrumental. Toda a atividade foi bem participativa e pudemos resolver algumas dúvidas na relação com o corpo, os instrumentos e a ideia por trás da clave característica no agogô. Por recomendação da Prof. Silani (Orientadora) fizemos a versão da cantiga um pouco mais “cantada”, entoada com mais caráter melódico e não “gritando”. Ainda tenho a sugestão do colega de estágio Nalu, que estava observando a aula, de subir o tom da canção, para que não fique muito grave para a voz daquela faixa etária. Iremos testar essa versão na próxima vez que o ritmo for trabalhado.

Aula 4
Sexta-feira: 04/10/24

Tema: Culturas através da música.

Tempo de aula: 90 minutos

Data: 04/10/2024

Recursos
- Projetor Digital;
- Tela/Suporte para projeção;
- Instrumentos de percussão variados: Surdo, Agogô, Atabaque, Chocalho e etc.

Metodologia
Momento 1 - Como na última aula iremos esgotar por ora o estudo sobre o Maracatu introduziremos essa aula de forma expositiva, com uma apresentação de slides (em anexo) que une características territoriais (geográficas), culturais, musicais e de vestimenta que apresentam e identificam a tradição do Ijexá através dos blocos de Afoxé, mais precisamente no estado da Bahia. (35 minutos)
Momento 2 - Após essa vivência introdutória, iremos para a sala de música experienciar a construção do ritmo com a turma disposta de instrumentos graves e agudos de percussão. Inicialmente é prevista uma montagem lenta e escalonável do ritmo, iniciando com jogos de acentuações gerais para depois partir para características do gênero. Iremos iniciar fazendo um jogo entre a primeira parte da linha do agogô característica do gênero e  o acento dos surdos (tambores graves), aos poucos introduzindo as acentuações restantes de outros instrumentos. Entende-se aqui o uso da canção “Andar com Fé” (Gilberto Gil) também como um recurso pedagógico-musical para que se possa construir uma noção rítmica a partir da tradição oral, característica das tradições de percussão popular de rua. O uso da palavra cantada também serve como dispositivo para criar um arranjo coletivo, através de proposições sugestivas interagindo com a turma.
Com esse trabalho, pretende-se explorar com a turma as noções do papel de cada instrumento do bloco de afoxé: Agogôs, Atabaques, Caixas, Chocalhos e Voz. (55 minutos).

Relato sobre a aula
No dia da aula dupla, aproveitamos o tempo da chamada em sala para acalmar as crianças (que chegam em nossa aula sempre depois do recreio) e fizemos um tempo de silêncio para depois irmos até a sala de música. A proposta era passar o documentário “Karnaval Ijexá” para as crianças ainda na sala básica, mas o notebook do professor Caio já estava na sala de música e fomos pra lá. O documentário é sobre os primórdios da cultura do carnaval de rua em Salvador, que era baseado no toque do Ijexá e no desfile dos blocos afro, que em geral eram os Afoxés. Apesar da linguagem adulta, o documentário tem cenas bem simbólicas e marcantes da cultura negra no período e mostram uma raiz cultural do carnaval que hoje em dia é estigmatizado pelo neoliberalismo (em camarotes, abadás e marcas de bebidas). Apesar das cenas antigas e dos argumentos filosóficos, as imagens e a musicalidade são o que mais podem entrar no ideário das crianças e ajudar a reconhecer o assunto. Infelizmente por já estarmos na sala de música a atenção da turma ao vídeo foi pouca (quando comparado ao envolvimento com os vídeos que vimos na sala básica, cada estudante na sua carteira, todos de frente pro quadro) então o ensinamento é: sempre que houver exposição de slides ou vídeos, fazer na primeira fase da aula, mantendo a turma na sala básica. Um outro ponto que o professor Caio trouxe foi um pedido da professora que dá a aula depois da nossa na quarta-feira, para tentarmos “acalmar” um pouco os alunos e alunas antes de voltarem para sala. Segundo ela, eles voltam de nossa aula “batucando em tudo”, então vamos nos organizar para esse tipo de situação a partir do próximo encontro.
Antes de vermos parte do mini-doc escrevi no quadro a palavra “Carnaval” e depois substitui o C pelo K, perguntando como essa diferença impactaria no uso da palavra, tentando demonstrar que se tratava de uma escrita que mantinha a sonoridade mas mudava a referência do alfabeto, indicando que estava mais próximo de uma grafia advinda da linguagem do continente africano. Depois escrevi as palavras “Ijexá” e “Afoxé” no quadro indicando suas relações. A turma estava um pouco agitada e consegui poucas interações construtivas, mas conseguimos explorar um pouco dessa variação linguística que está impressa em diferentes camadas da nossa cultura. Após assistirmos o mini-doc perguntei à turma se conheciam alguma música com o ritmo ijexá ou algum canto do gênero. Ninguém chutou “Andar com Fé” e pude mostrar a música fazendo uma rápida análise sobre a letra, que relaciona a fé de diferentes manifestações religiosas. Houve um momento breve de reflexão sobre como a composição pode falar sobre diversidade cultural e liberdade religiosa (mas não só) e depois partimos para tocar o ritmo, cantando a canção.
Como nosso grupo soou em conjunto, é possível ser visto e escutado abaixo.
Ao final da prática fizemos uma conversa em roda com a sala e, comentando sobre os gêneros que já havíamos estudado, perguntei qual seria um próximo que eles se interessaram enquanto grupo e muitos responderam “reggae”, dando uma indicação autêntica e favorável ao próximo estudo musical compartilhado pela turma. 

Aula 4.jpg

Aula 5
Quarta-feira: 09/10/24 

Tema: Capoeira pelo Mundo

Tempo de aula: 45 minutos

Data: 09/10/2024

Recursos
- Projetor Digital;
- Tela/Suporte para projeção;
- Instrumentos de percussão da capoeira: pandeiro, berimbau, reco-reco e atabaque. 

Metodologia
Momento 1 - Segundo a indicação do Professor Caio, iremos participar de uma atividade com o Professor Cláudio (de Ed. Física) muito preciosa: uma roda de capoeira na escola, com um grupo convidado. Como é incerto se essa atividade tomará todo o tempo de aula da turma, a proposta é iniciar a aula demonstrando parte do valor histórico da Capoeira para o nosso país e como ela se relaciona e se constroi a partir da música. Mostrar seus principais instrumentos, algumas variações dentro do gênero e focar no instrumento musical mais notório da prática: o berimbau. Aqui pretende-se falar sobre a configuração organológica básica do instrumento, sua possível origem histórica e chegada em nosso território pela diáspora africana e a orquestração na capoeira dividida em três qualidades de timbre: o Violinha (agudo), o Viola (médio) e o Gunga (grave). Se der tempo, iremos assistir às inovações propostas sobre o instrumento que vem de dentro da tradição, como é o caso do “Tririmbau”, instrumento autoral do Mestre Churrasco (RS) que pode ser visto em ação aqui. (15 minutos)
Momento 2 - Saída da turma para a quadra poliesportiva, para a prática em roda da capoeira com os instrutores e professores convidados (30 minutos). 

Em caso de não saída, já na sala de música pretende-se reforçar o aspecto responsorial do canto da capoeira (presente em diferentes manifestações da música popular tradicional brasileira) com - primeiro os professores e depois grupos de 4 alunos (munidos de pandeiro, agogô, atabaques voz) - diferentes grupos revezando a maestria da roda, fazendo a “pergunta” através do canto para a classe responder, cantando a frase musical como resposta. A proposta aqui é ter inicialmente um contato primário com os cantos da capoeira (Paranauê, Canário da Alemanha e etc.) e depois sugerir uma dinâmica de improvisação e criação com a turma, onde ao revezar os grupos, cada grupo elege seu “cantador” ou “cantadora” pra puxar um verso improvisado de capoeira, brincando com a letra enquanto o restante do time faz a base rítmica e a turma fica na função de “coro” da roda, junto com as palmas. (25 minutos)

Ao final da atividade, voltamos a sala básica com antecedência para cumprir com o acordo de acalmar as crianças (5 minutos)

Relato sobre a aula
A atividade da capoeira foi cancelada por conta da chuva. Também fui impedido de ir a aula por questões de saúde: uma forte amigdalite no final de semana que foi curada graças à medicação, mas se estendeu até a quarta-feira da devida aula, com dores para falar.  

Aula 6
Sexta-feira: 11/10/24

Tema: Na batida da guitarra

Tempo de aula: 90 minutos – 2h/a
Data: 11/10/2024

Recursos
- Projetor Digital;
- Tela/Suporte para projeção;
- Instrumentos musicais da sala

Metodologia
Momento 1 - Conforme decidido em sala - de que o próximo gênero a ser estudado coletivamente seria o Reggae - iremos, ainda na sala básica, utilizar o quadro para uma conversa, primeiro listando grandes nomes e artistas conhecidos que tocam a música Reggae, depois pensando acerca da palavra “Tempo”. Com a palavra exposta no quadro, a intenção é chegar até a concepção de “Contratempo” com a turma e as implicâncias do acento que não cai no tempo forte mas é tão importante para a definição característica da guitarra e de outros elementos na prática musical do gênero Reggae. (15 minutos)
Momento 2 - Já com a turma na sala - inicialmente como experimentação corporal a partir da metodologia d’O Passo - iremos explorar a sensação do “e” no contratempo do pulso, com os pés marcando as cabeças de tempo e a voz e o joelho reforçando onde se encaixa a pulsação. A proposta é criar jogos com a turma, dividindo em dois lados e pedindo para que cada um seja responsável por marcar o tempo forte (nos numerais 1,2,3 e 4) e o contratempo (expresso na vogal “e”). (15 minutos)
Momento 3 - Com a turma já aquecida, pretende-se fazer uma rodada livre de escolhas de instrumentos, para deslocar um pouco a atenção enviesada da percussão. A sugestão é que cada estudante, um a um, escolha “qualquer instrumento da sala”. A partir dessa escolha, faremos uma “roda improviso” com cada participante criando uma linha musical em seu instrumento que se mantenha numa determinada quadratura para que, dentro da pulsação, o improviso fixo possa rodar pela turma, sendo acrescentado um novo som a cada integrante, resultando numa massa sonora  imprevisível. (20 minutos)
Momento 4 - Como momento final da aula, iremos praticar um pouco mais a proposta do contratempo, dessa vez com os instrumentos, dividindo a sala em dois times, novamente um responsável por cada elemento (tempo forte ou contra) e ocupando timbres diferentes com instrumentos variados. A ideia aqui é praticar dinâmicas, solos e etc. (25 minutos).


Relato sobre a aula
Era uma sexta-feira chuvosa, fim de uma semana de intensas chuvas na região que flexibilizaram as atividades presenciais da maioria dos centros de ensino na cidade. Nesse clima cinza nossa aula começou com uma estranha diferenciação: por conta das chuvas muitos alunos e alunas faltaram, então estávamos só em 15 pessoas (sendo que o comum é o dobro disso). De início, fiquei um pouco inseguro com uma possível falta de participação da turma por estarmos em tão poucas pessoas, mas logo isso se demonstrou prudente: com menos pessoas, a turma estava mais calma e concentrada.
Fizemos a conversa inicial sobre artistas do gênero e fui positivamente surpreso com várias respostas, anotamos alguns nomes no quadro e depois escrevi a palavra “TEMPO” bem no centro do quadro. Perguntei à turma qual entendimento tinham acerca dessa palavra e alguns responderam coisas relativas ao passado, à espera e a velocidade, que influi diretamente na concepção que temos de temporalidade na música.
Reagindo rápido às questões da turma mostrei algumas variações das possibilidades de uso da palavra “tempo” e estacionei na escrita de uma palavra antes dessa: “contra”. Perguntei, na turma, quem era “do contra” e - para a minha surpresa, por já estar conhecendo tão bem aquele grupo - me responderam os exatos dois colegas que eu havia pensado na minha cabeça quando tive a ideia de sugerir essa pergunta, refletindo e tentando imaginar quem a turma indicaria.
Nessa explicação, consegui ir até o ponto de apresentar os tempos fortes como numerais e o contratempo expresso na vogal “E". Fomos até a sala de música e sugerimos uma primeira experimentação com o corpo e a ideia de contratempo. A turma sempre efusiva fazia palhaçadas em meio à prática, mas todos souberam identificar o espaço que há no contratempo entre as pulsações. Veja abaixo como ficou o quadro desta aula.


Expandindo um pouco a aula e deixando de lado um pouco esse estudo métrico pedi para sentarmos em roda e cada um - um por vez - escolher um instrumento qualquer na sala para a prática. Em meio a muitas dúvidas e trocas cada pessoa se estabeleceu no seu instrumento e fizemos uma rodada de livre improvisação, o desafio era: manter uma linha musical dentro de um ciclo de quatro pulsações onde a próxima pessoa pudesse entrar no jogo musical - adicionando mais uma linha - até completar a roda. A distribuição sonora entre timbres e linhas musicais ficou muito interessante e pode ser escutada abaixo.




É interessante perceber alguns pontos de apoio ao ouvir o áudio. Os meninos que escolheram o repique ficam mais fixos em uma dada linha rítmica (por exemplo a base do Samba Reggae) enquanto os que escolheram os instrumentos de melodia/harmonia procuram variar de forma mais livre sua linha. O desafio complexo de desintegrar os papeis. Fazer com que a percussão não seja só uma base.
Brincamos variando entre solos para valorizar a escuta dos instrumentos menos volumosos - estudando também entrada e saída naquele ritmo que tinha sido autenticamente construído, muito também a partir do estudo prévio sobre o Samba-Reggae, realizado com o professor Gian, titular da vaga na referida EBM. Para fechar a aula voltamos, com os instrumentos misturados, ao estudo de tempo e contratempo proposto na aula para abordar os elementos iniciais do Reggae. Assista no vídeo abaixo.

00:00 / 06:42

Aula 7

Quarta-feira: 16/10/24 

Tema: Posição e ação

Tempo de aula: 45 minutos – 1h/a
Data: 16/10/2024

Recursos
- Quadro e canetas marcadores da sala;
- Instrumentos musicais da sala.

Metodologia
Seguindo o entendimento do fluxo de aula mais curta da semana, de caráter mais exploratório e investigativo e, a partir da última aula onde expandimos os timbres dos instrumentos a se escolher, vamos após a chamada para a sala de música onde uma proposta de discussão é feita, a partir das palavras Composição e Improvisação colocadas no quadro, tentando captar e colocar em pauta o entendimento das estudantes sobre os termos e como se caracterizam seus possíveis desdobramentos na música. (15 minutos)
Após essa reflexão construtiva, iremos para mais uma prática reflexiva sobre os instrumentos Com experimentação de regência e solos a partir da livre escolhas de instrumentos, um desdobramento da aula anterior. A proposta é indicar para que cada estudante escolha qualquer instrumento da sala e participe da atividade manipulando-o sonoramente de acordo com sua abordagem intuitiva no manejo com o instrumento e conforme as indicações do professor, incluindo realizar solos individuais, em duo ou trio. (30 minutos)

Conforme combinado pelo Prof. Caio em sala na aula passada, em todas as quarta-feiras devemos voltar para a sala básica com um certo tempo de antecedência antes do sinal, para “acalmar” a turma, seguindo uma solicitação da professora que dá a aula posterior à nossa, pois, no entendimento dela, os alunos e alunas estavam chegando muito agitados em sala após as nossas práticas, “batucando em tudo” conforme as palavras dela. A proposta é reservar os últimos minutos da aula para a dinâmica de guardar os instrumentos, organizar a sala de música, ir para a sala básica, chegando lá respirar um pouco e conversar rapidamente sobre a aula. (10 minutos)

Relato sobre a aula
A proposta de escrita das palavras no quadro foi bastante positiva para discutir sobre o tema da improvisação e da composição. Momentos antes da aula me veio a ideia didática de: dividir as palavras inicialmente no quadro, escrevendo apenas uma parte de cada uma delas, reservando um certo mistério acerca da palavra “Composição” - escrevendo no quadro apenas “Posição” - e da palavra “Improvisação” - escrevendo no quadro apenas “Ação”.
A proposta aí, que funcionou de forma interessante, era chegar ao ponto de concluir as palavras com a turma, primeiro acerca de uma reflexão sobre a nossa Posição no mundo, suas reflexões e sua relação com a Composição sob a ótica do ponto de vista de criadores e criadoras e como essas pessoas (e nós) se relacionam com o mundo. E com a palavra Ação a partir da ótica de se colocar pro mundo - além de sua própria posição (visão de mundo) e do entendimento de si - através de criar alguma coisa, partindo da Improvisação. 

Com toda essa reflexão relacionada sempre à música e seus desdobramentos, partimos para a atividade do grupo em roda de escolha dos instrumentos. Com diferentes instrumentos em mãos e com  a ajuda da regência, fizemos algumas dinâmicas de volume, silêncio, acentuação e etc.
E então partimos para a improvisação em solos ou duos/trios a partir da escolha do regente, o que não deu tão certo deixá-los sem algum tema. Os solos ficaram inertes ou apenas inexistentes por vergonha ou falta de direcionamento. Tudo era apenas alguma espécie de barulho conveniente. Muito importante para nossas primeiras explorações mas, de fato, muitos demonstravam estarem apenas interessados em “fazer logo pra passar a vez”. Mas aos poucos a participação se tornou mais integrativa, chegando ao fim da aula.

Ainda, a diferença dos instrumentos ainda está presa a maioria de ritmos, com poucas pessoas explorando os melódicos e harmônicos, algo a se tentar estimular nas próximas práticas de exploração. 

Aula 8
Sexta-feira: 18/10/24

Aula não dada - choque de horários com agenda de trabalho

Tempo de aula: 90 minutos – 2h/a

Aula 9

Quarta-feira: 23/10/24

Tema: Descrevendo imagens com som

Tempo de aula: 45 minutos – 1h/a
Data: 23/10/2024

Recursos
- Quadro e canetas marcadores da sala;
- Instrumentos musicais da sala.

Metodologia
Mais uma vez na aula mais curta da semana, de caráter mais exploratório e investigativo, dessa vez iniciamos a aula já na sala de música conversando sobre o material da aula anterior (aula 7) fazendo uma breve revisão sobre a relação entre composição e improvisação. (5 minutos)
Divide-se a sala em 4 equipes a fim de diluir um pouco os grupos de relações e criar novas zonas de interação e reflexão coletiva onde o ponto de partida possa ser a música. A partir dessa divisão da turma indica-se que cada grupo, um por vez, retire seus instrumentos à livre escolha. Os próximos grupos devem ser orientados a perceber o que os primeiros grupos irão escolher, para se inspirar ou contrapor em relação ao “arranjo instrumental” escolhido pelo grupo vizinho. (10 minutos)
Assim que os grupos estiverem divididos e posicionados com seus instrumentos em círculos pequenos, é revelado à turma o tema da composição coletiva - com caráter exploratório - do dia: Lagoa da Conceição. A partir deste tema, um desafio é lançado para a turma de que, com 15 minutos para pensar e debater sobre o tema e suas possibilidades musicais, se desenvolva em cada grupo uma linha musical que transpareça alguma relação inerente ao tema sugerido. Após isso, grupo a grupo, será realizada uma apresentação para a turma (25 minutos)
Conforme o decidido habitualmente para a data, é reservado um tempo para guardar os instrumentos e retornar à sala básica. (5 minutos)

Relato sobre a aula
Após uma semana sem encontrar a turma, fizemos uma rápida revisão no quadro sobre os conceitos que já trabalhamos em música: cultura, tradições, ritmos, pulso, duração, composição, criação, exploração, improvisação….
Aproveitei da sala básica para fazer essa introdução antes de irmos para a sala de música - pois é quando os ânimos estão menos agitados e as estudantes tendem a escutar mais - e essas discussões com essa turma se mostram sempre profícuas, conseguimos linkar com coisas do cotidiano delas, que surgem durante a conversa e produzem bastante envolvimento, mesmo quando mais conturbada ou - o que acontece várias vezes - gerando conturbação entre a turma por encontrarmos ideias em comum.
A proposta na sala musical de dividir os grupos em equipes que traduziriam o tema em som funcionou muito bem, fez com que algumas pessoas que se distraem por conta de outras estivessem separadas e possibilitou novas trocas. Eu e professor Caio ficamos “pingando” de grupo em grupo para ajudar com ideias no debate do tema e na construção da proposta musical. Para alguns dos grupos foi difícil começar e tentamos associar o tema com elementos possíveis dentro da música. O que faz som na Lagoa da Conceição? Ou como soa a Lagoa da Conceição? É só natureza ou tem cidade também, barulho de carro e de gente? São algumas das perguntas disparadoras que usei para desenvolver o tema com os grupos.
Através do engajamento, a totalidade dos grupos (eram quatro) optou por estar entre dois caminhos na criação musical: sonorizar sobre elementos naturais (água, natureza, pássaros, chuva) ou sobre elementos da urbanidade, em especial, o Samba da Lagoa.
Para esse intuito acredito que dois fatores contribuíram: eu poderia ter dado mais pistas, no início da aula, sobre como desenvolver um tema musicalmente (não quis dar tantas indicações mas penso agora que seria proveitoso), quais caminhos podem se desdobrar a partir de uma temática tão objetiva mas ao mesmo tempo tão abstrata quanto a Lagoa.

Por falta desse estímulo apontador, muitos alunos também por estarem somente com instrumentos de percussão na mão, decidiram retratar o Samba como elemento central porque a Escola de Samba do bairro foi campeã deste ano (2024) no Carnaval de Florianópolis. Então, na hora de explicar a criação, dois grupos justificaram a escolha abordando este tema e outros explicaram a escolha dos elementos que lembraram água ou chuva (caxixis e chocalhos). 

Aula 10
Sexta-feira: 25/10/24 

Tema: A palavra como impulso

Tempo de aula: 90 minutos – 2h/a
Data: 25/10/2024

Recursos
- Quadro e canetas marcadores da sala;
- Caixa de som com conexão bluetooth;
- Folhas de papel A4 divididas ao meio
- Canetas e lápis
- Instrumentos musicais da sala.

Metodologia
Com mais tempo para desenvolver o trabalho por ser a aula dupla da semana, a aula será enviesada pela escolha da turma em estudar o gênero do Reggae mas, dessa vez, terá o Foco na composição onde o veículo, por ora, será a palavra. Já na sala de música, na intenção de diluir grupos habituais, dividiremos a turma novamente em quatro equipes (diferentes das da aula passada) a fim de estimular novos contatos e iniciativas em reflexão coletiva. Mas, antes disso, será escutado e trabalhado com a turma a música “Cubo” da banda Dazaranha. (20 minutos).
Com essa introdução e a divisão dos grupos, é entregue para cada grupo um pedaço de papel para que seja construída coletivamente 2 versos da letra de uma canção com o tema livre mas na intenção de se tornar uma música do gênero Reggae, para que cada grupo escolha seu tema e escreva os pedaços da composição que ao final será reunida. (25 minutos)
Após a sessão de escrita, iremos reunir os grupos e revelar os trechos coletivamente, inserir em um documento e pensar sobre os versos - ajustando cada frase se necessário e buscando encontrar um refrão. (20 minutos)
Com essa escrita “finalizada” a proposta é fazer disso uma música Reggae possivelmente respeitando o ritmo harmônico da música Cubo (Am e G, com dois tempo cada em um compasso 4/4), demonstrando para a turma como é possível criar uma música espontânea a partir da letra, dessa vez com o acompanhamento feito pela própria turma que já treinou e tocou o ritmo do Reggae. (25 minutos) A proposta é que essa letra coletiva também seja trabalhada em aulas posteriores.

Relato sobre a aula
A audição e a conversa inicial sobre a música “Cubo” (Dazaranha) foi bastante positiva, o palpite de trabalhar a canção foi assertivo, principalmente acerca dos versos:
 

“O meu compromisso com a minha natureza é de não ser igual.
Nasci no meio de milhares de pinheiros mas eu ‘saquei’ que sou uma goiabeira.
Na geometria desse mundo me disseram que eu sou quadrado mas eu sou triangular e quem sabe circular.”

 

Pudemos discutir sobre criatividade, sobre analogia e - principalmente - sobre diversidade, sobre não ser igual. Além disso, falamos sobre meio ambiente, espécies exóticas invasoras e chegamos até a comentar sobre os valores dos ângulos internos de um quadrado!
Tudo isso motivou a turma a buscar inspiração e na hora que dividimos os grupos (dois ficaram pro lado de fora da sala, para conter a desatenção) a atividade fluiu bem a partir da minha orientação e do Caio.
De volta à sala, seccionar e ajustar para encaixar os versos da letra numa composição que ficasse interessante foi bastante proveitoso, com a maioria da turma participando entre gritos e votações do que sairia ou ficaria.
O resultado final da letra você pode conferir abaixo.
Na última parte das atividades considero que faltou um melhor planejamento ou organização da turma: tentei demonstrar de forma intuitiva como poderíamos construir uma música com acordes em cima dessa nova letra mas, já se tratando do fim da aula e por conta da agitação com os instrumentos em mão, foi difícil trabalhar de forma direta com a turma, pensar qual seria a melhor parte para um refrão ou fazer alterações na letra conforme a impressão que os versos davam em cada trecho pra música.

Com a turma, ao final da aula, testando formas de cantar os versos da composição.

Letra da turma
Reggae da 71

Nas ondas do mar me encontro na paz

no reflexo do mar me vejo em você

 

Vou pegar meu barco pra ir na ilha do coqueiro 

O dia ta bonito com clima de veraneio 

Chegando lá eu caí de boca no chão brincando de boi de mamão

 

“Vô” lá na praia pegar uma onda, tomar aguá de coco e jogar aquela alta

Jogar vôlei, tênis de areia e futebol

 

Comer e aula livre, receber o celular, recreio com amigos 

Tudo isso é muito “bão” e comer macarrão e pão

Surfar e tomar chá mate com limão

© 2023 - por Leo Saconatto

bottom of page