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Estágio Curricular IV
E.B.M. Henrique Veras
Turma 71 - semestre 2024/2

 A escola Henrique Veras está ao pé do maciço do morro da Lagoa da Conceição, o contorno que delineia e impõe a transição entre Lagoa e mundo, um fenômeno natural protetor do leste da ilha de Santa Catarina, para que o mar não enxergue a cidade que avança sobre o seu horizonte poente, vindo do centro. O mar ao leste da ilha repousa na inocência de não enxergar o continente. Não vê a infestação urbana que pausa a natureza. As crianças e pré-adolescentes estudantes da Henrique Veras também repousam num ambiente salutar de comunidade e vizinhança.
          Muitas nascidas ali -  numa comunidade que tem uma área extensa mas de no máximo 10.000 habitantes - quando questionadas sobre música demonstraram um ávido interesse porque a escola fica cravada em uma das bordas do Centrinho da Lagoa, região central do bairro. Um espaço urbanizado multicultural que, por conta de uma amálgama entre turismo e vivacidade da cultura local, acessa diferentes contextos vivenciais em seu cotidiano. Desde os shows e apresentações gratuitas na praça, o Casarão das Rendeiras, a convivência com os pescadores e a tão citada pelas estudantes União da Ilha da Magia, a escola de samba da Lagoa, campeã do Carnaval de Florianópolis 2024.
          A E.B.M. Henrique Veras tem uma estrutura ampla com a edificação concentrada no centro do terreno, as salas ao redor do pátio de alimentação, que fica no centro. Destacado do prédio apenas um primeiro anexo que abriga algumas salas de recepção, quem faz a divisão entre os dois é um parquinho com brinquedos de cores sugestivas, com tonalidades mais vivas e saturadas dos que a que tenho memória do meu tempo de escola. Por dentro do prédio é tudo num tom pêssego-neutro, parece que feito para soar leve, universal e acolhedor. Com cartazes informativos, científicos e artísticos espalhados pelos corredores, professores e professoras de diferentes disciplinas intercalam suas aulas e coabitam nesse universo de salas e corredores.
          Para a turma de música, apenas a chamada é feita na sala habitual da turma, depois em geral todos os estudantes e as estudantes vão para a sala de música, que fica anexada a esse “cinturão de salas” ao redor do pátio central, todo coberto. Na passagem da sala de música, que não é muito maior do que a sala habitual, pelo lado externo está o caminho para a quadra de esportes, que também é anexada a edificação maior. Da janela da sala de música enxerga-se o pátio descoberto, a terra já toda exposta da grama aniquilada pela corrida das crianças. A sala de música tem janelas grandes e boa entrada de luz natural. Como sempre, alguém animado por estar indo para a quadra, para na janela para interagir com quem está dentro da sala bagunçando um pouco a turma. Naquela escola parece se movimentar um universo onde tudo soa consumado e expansível, simultaneamente. 

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Conclusões

O semestre de estágio na Henrique Veras foi um processo concomitante ao debate sobre identidade, exercício de memórias e construção de memoriais (formativos ou não) que acontecia na sala da graduação, nas aulas disciplina de estágio com a Profa. Silani Pedrollo. Esses dois universos em confluência - junto também à orientação da professora citada - contribuiram para um semestre inovador que possibilitou me abrir para novos desafios.
Através dos registros autobiográficos (que contribuiram em parte para a construção de um memorial, como uma das entregas da disciplina) pude perceber novas formas de construção para algumas aulas, criar novos mapas sobre caminhos do conhecimento com base na palavra. Alguns podem ser consultados nos links abaixo:

O principal no processo formativo do semestre foi enxergar o que - atravessando minha biografia - interferia nas escolhas pedagógicas. Sendo assim, fomos em orientação além da percussão, uma premissa básica em meu repertório profissional. Distanciando-se desse universo conhecido em rumo de novas ideias descobrimos o uso da palavra como uma ferramenta musical na composição. Além disso, pela primeira vez experienciei dar uma aula exclusivamente sobre melodia. Ter contato com o aspecto melódico da música amarrou as coisas: unimos com a turma voz, percussão e teclados para desenvolver um repertório que unia reconhecimento de culturas, composição, identidade, diferentes gêneros, autoralidade e noções de arranjo. 
Aquilo de maior importância durante o processo foi escutar as/o estudantes. A cada aula, novas trocas e manifestações sobre o material trabalhado em sala guiaram os passos seguintes. Virei amigo do quadro branco e escrevemos muitas coisas, fizemos muitos mapas mentais que conectavam termos, ideias e percepções. A escolha por um gênero específico para uma maior interação - no nosso caso, o Reggae - veio desses momentos de troca. Percebo que isso, em visão de professor, não somente ajuda a despertar o interesse e aumentar o engajamento, mas também mobiliza a decisão, a gestão coletiva e principalmente a autonomia e a iniciativa, virtudes tão essenciais para a musicalidade.
Perceber a turma em sala, tomando decisões, foi um avanço no processo relacional bastante interessante e tirou de mim o peso de ser um mediador entre o conteúdo e a prática. A partir do momento em que - nas aulas menores, de quarta-feira - conseguimos introduzir as dinâmicas exploratórias a partir de temas em comum chegamos num espaço de abertura onde a livre interdependência dos fatores e a dissolução da ideia de "resultado correto" dentro do universo dos sons parecia aliviar um pouco a vergonha de participar em uma prática musical expositiva (a participação da turma sempre foi abundante). Conversar sobre essa liberdade dentro da música foi importante.
Cumprindo com a proposta do plano de ensino da turma para o semestre, através da atuação do estágio pudemos expandir o repertório de diferentes linguagens musicais, conversar sobre temas transversais à música - matemática, filosofia, história, sociologia, antropologia, artes em geral e etc. - e estabelecer um contato permanente com a prática musical, pegando instrumentos na mão em quase todas as aulas, com a proposta de debater sobre o que estávamos fazendo enquanto fazíamos. 


 

© 2023 - por Leo Saconatto

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